Vocês não me conhecem. Sou um são paulino de quatro costados como se diz, sem dúvida tenho o gene tricolor no DNA. Tenho amores na vida. Minha esposa, o Blues, minha filha que chega em breve. Mas o tricolor foi meu primeiro amor, o Morumbi é minha segunda casa, e todos os craques que por lá passaram são como irmãos. Porém um deles me fascina mais que qualquer outro. Arthur Friedenreich Quem foi esse homem? Os mais jovens talvez não conheçam, mas ele foi o maior jogador do seu tempo. Inventou o drible curto, o chute de efeito, autor de mais de 1300 gols, superando Pelé, é recordista do livro guines.
Mulato,filho de um comerciante alemão e uma amante negra, desde jovem mostrou habilidade com a bola nos pés. Começou no clube da colônia alemã, o Germânia , e não demorou para jogar no maior clube brasileiro da época, o Paulistano. Lá obteve suas maiores glorias e títulos sendo considerado no Brasil e no mundo um dos maiores jogadores de futebol em todos os tempos. Com o fim do futebol amador no clube do Jardim América, Fried, “EL TIGRE”, como foi apelidado pelos uruguaios quando jogou e ganhou a Copa América em 1914 se transferiu para um novo clube, um time que acabava de nascer, sem dúvida o maior ganhador do futebol do Brasil em todos os tempos, o São Paulo Futebol Clube.Time que nascia do inconformismo, da garra, e do amor pelo futebol no ano de 1930. Tanto no campo do velódromo quanto na floresta, Fried era Deus! Foi o primeiro ídolo da torcida tricolor, e o maior artilheiro na media de gols por jogo, com 1 gol por partida.Os que o viram jogar, quase nenhum ainda vivo, dizem que Pelé é um mero jogador, comparado a ele. Tive o privilegio de conhecer uma dessas pessoas, meu tio, conselheiro vitalício do tricolor, que viu e conheceu Fried. Ele dizia: numa época em que o rádio não transmitia futebol, a televisão era um sonho distante, e só a imprensa escrita divulgava o esporte, não é a toa que poucos o conheçam, porém quem viu Fried e Pelé jogar sabe que esses são os dois maiores jogadores de futebol que o mundo já viu! Mas o Arthur sem dúvida era melhor!
Hoje fui visitá-lo. Vocês devem pensar: o cara é louco, ele morreu a mais de 37 anos, como isso é possível? Maquina do tempo? Quem me dera! Voltar no tempo, ser um privilegiado, assistir ao futebol na sua essência, com jogadores que tinham amor à camisa que vestiam, ao clube que defendiam, sem se preocupar com fama e dinheiro, apenas jogar o futebol por ele mesmo.Na verdade, fui ao cemitério São Paulo, ali na Vila Madalena. Não era minha pretensão fazer essa visita, mas algo sobre natural me “puxou” para dentro, talvez um convite, de alguém que sempre quis conhecer e ver jogar. Sem saber onde era o tumulo, comecei a andar a esmo pelo lugar, enorme, uma verdadeira galeria de arte a céu aberto com esculturas de artistas famosos ornando os túmulos, seja em mármore, granito ou bronze. Encontro um funcionário e pergunto: “Sabe onde está Friedenreich?” Ele responde: “Fri o que? Não sei não.” Tento novamente: “Sei que aqui está sepultada muita gente famosa, mas não deve ser difícil, ele era um jogador famoso.” Pensa e responde: “jogador famoso....acho que está num tumulo coletivo colado ao muro, lá em baixo no cemitério.”
Não acreditei, tumulo coletivo, como? Desço e procuro, depois de um tempo, encontro. Lá está, no mausoléu do esportista veterano. Apenas uma placa, suja e simples, com data de nascimento e morte marca o local onde repousa o homem dos mil e tantos gols, orgulho do esporte nacional, do grande Paulistano e do insuperável São Paulo.
Sepultado com cerca de outros 10 atletas. Sem desmerecer os outros, mas “EL TIGRE”, merece coisa melhor. No mínimo um tumulo próprio, com uma estatua imortalizando o maior jogador de futebol do mundo entre os anos 10 e 30 do século 20. Acredito que a diretoria tricolor não saiba disso, pois se souber deveriam sentir vergonha. Hoje visitei um irmão, e gostaria muito que ele tivesse o reconhecimento devido. Arthur Friedenreich não foi uma lenda, pois as lendas nem sempre são verdade. Ele sempre será um mito.
- 1931
- Um Craque iluminado
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