Pronto. Eis que Muricy – o profissional de personalidade, que tem "40 anos nesse negócio" (uma de suas frases preferidas, quando questionado) – demonstrou todo o seu know how ao assumir o Palmeiras, discursando sobre as suas ligações de infância com o novo clube. Faltou apenas dizer: "sou palmeirense desde pequeno".
Na verdade, quem o conhece sabe bem: Muricy, na infância e adolescência, torcia para o Corinthians. Acabou jogando no futebol social do São Paulo, passou para as categorias de base, subiu ao profissional, e, naturalmente, passou a nutrir simpatia e afeto pelo Tricolor. O restante da história – a sua ligação com Telê, o início da carreira de técnico no São Paulo, os títulos brasileiros, os fracassos na Libertadores, até o momento de sua recente demissão – a maioria conhece.
Em linhas gerais, é um sujeito digno, sério, trabalhador (pouco criativo, mas inegavelmente esforçado e persistente), que não se preocupa em manter boas relações sociais quando não simpatiza com alguém, ao mesmo tempo em que é capaz de bajular constrangedoramente aqueles que o apóiam, o que fez reiteradas vezes em relação a Juvenal Juvêncio.
Temos, creio, uma dívida pelo Tri Brasileiro, da mesma forma que Muricy deve ao São Paulo o (inesperado) status de melhor técnico do Brasil.
A dívida de Muricy estende-se a Cuca, Leão e Autuori: o primeiro formou, o segundo aperfeiçoou e o terceiro venceu com um time que antes de 2005 estava na sarjeta e foi entregue a Muricy, em 2006, com um grupo tricampeão mundial. Cá pra nós, ser vice na Libertadores 2006 e campeão brasileiro no mesmo ano foi fácil, porque o time estava prontinho (Lugano saiu no meio do campeonato, mas veio Miranda).
Mérito, houve em 2007, quando Mineiro e Josué (fundamentais) haviam saído e ele teve de reconstruir o meio, colocando para marcar dois jogadores que não eram marcadores de origem. É verdade que ele hesitou muito em colocar Breno, mas foi forçado, por causa das contusões de André Dias e Alex Silva, e Deus nos resolveu um problemão.
Em 2008, uma reação consistente e avassaladora, embora tenhamos de lembrar que o Grêmio nos entregou o Campeonato, além de Palmeiras, Cruzeiro e Flamengo, que foram se esbarrando e deixando o São Paulo se aproximar.
Muricy é bom. Não é gênio (longe, looooonge disso), mas é capaz de formar equipes compactas, difíceis de se derrotar. Caiu porque este ano o São Paulo não apenas começou mal a temporada (como em 2007 e 2008), mas tornou-se fácil de vencer, por não criar nada e ter-se tornado presa fácil nos contra-ataques, com uma defesa fragilizada, especialmente pela perda de força de marcação no meio-campo e pela incapacidade de Muricy em entrosar um time-base, especialmente nas funções de volante e atacante.
Muricy hesitou e, vendo o relacionamento dos jogadores estagnar, silenciou. Tinha de identificar os focos de atrito e aproveitar sua boa relação com JJ para defenestrá-los do São Paulo: Hugo, que ele tanto defendeu, é um grande exemplo de jogador ruim, que faz intriga e esculhamba a união do grupo.
Muricy disse em sua apresentação ao Palmeiras que "não existe traição" em sua ida para o "Suine Team", uma vez que foi demitido. Concordo. Mesmo que tivesse se demitido, para ganhar mais, seria direito seu, e nada haveria de "imoral" nisso.
Mas é desnecessário que se faça de vítima e diga que não saiu antes "por causa da torcida" (leia-se Organizadas). Além do comovente apoio da TTI, acrescente-se Juvenal a bancá-lo e um salário da ordem de R$ 350 mil aos fatores que poderiam contribuir para sua permanência.
Faltou respeito do São Paulo em relação a ele, sim. Como havia faltado, da primeira vez em que foi demitido, nos idos de 1997, quando Dario Pereyra assumiu. Diretorias de correntes opostas, ambas com ética questionável e semelhante à de qualquer time brasileiro, infelizmente.
Mas Muricy não precisa dar desculpas ou fazer média com nossa torcida, nem com a do rival. Não precisava... mas fez.
Que tenha sucesso sempre, porque é um sujeito honesto - mesmo quando se rende às frases fáceis.
E que se lembre que conheceu a grandeza e o reconhecimento ao assumir o São Paulo Futebol Clube, com um time pronto. Ou há alguém que ache que o salário acima dos R$ 500 mil que lhe pagam hoje é fruto de suas gloriosas campanhas no Náutico e no São Caetano, ou de seu Brasileiro não conquistado em 2005 pelo Inter? (Em tempo: o vice de 2005 deve-se ao esquema Kia, sim, mas também à incapacidade de empatar com o fraco Paraná, na 36ª rodada, e de vencer o desinteressado Curitiba no último jogo. Lembremos que o Corinthians apanhou do Goiás na última rodada e perderia o título se o Colorado tivesse obtido 4 desses 6 pontos).
Para terminar, um desejo: que MR solicite e consiga de Beluzzo a contratação de Hugo, para que se reconciliem. Diego Souza é sondado por times europeus, Pierre também pode sair: Hugo pode fazer as duas funções ao mesmo tempo. E ainda desinfetar as privadas depois dos jogos no Parque Antártica.
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