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"Fanfarra para o homem comum (2007)"

Por DARIO CAMPOS (redacao@mauroivan.com.br)


Muricy Ramalho é um homem comum.

Um homem sério, honesto, trabalhador, até certo ponto competente, humilde, na maior parte do tempo, um tanto arrogante quando se sente acuado, sobretudo quando questionado.
Jamais foi discípulo de Telê Santana, como arriscam alguns, como gosta de se auto-intitular o próprio Muricy. São estilos muito diferentes.
Telê não era um homem comum. Era um técnico “de jogador”, descobridor de vocações, corretor de deficiências, incansável aperfeiçoador de fundamentos. Um “treinador” na velha acepção do termo. Um tempo em que não havia ternos italianos nos bancos de reserva dos times brasileiros.
Muricy jogou naqueles tempos, trouxe deles a simplicidade da camisa pólo com agasalho e boné, herdou de Telê um certo mau humor, uma certa aversão pelo antijogo, a preferência pelo futebol ofensivo. Falta-lhe, entretanto, o dom natural para identificar o talento, para forçar cada atleta a superar, por força da insistência, as suas limitações. E, sobretudo, para criar as condições ideais para que as qualidades de cada jogador apareçam, o que Telê muitas vezes fez até mesmo com jogadores limitados.
Sem Telê, Ronaldão não teria sido mais que um beque-de-fazenda truculento e afobado. Cafu nem jogaria na lateral, pois era volante de formação, além de não ter sequer um vestígio de competência nos cruzamentos. Telê ensinou Cafu a usar a velocidade e a força física na região menos ocupada do campo, onde faria a diferença. Com ele, Cafu aprendeu a tornar-se exemplo de ala, a driblar, a cruzar, a fazer gol.
Quem, como eu, acompanhou a trajetória de Raí no São Paulo, pode afirmar: sem Telê, Raí seria, para sempre, “o irmão do Sócrates”, um meia pesado e lento, de talento estático, e, assim, inepto. Assim foi com Carlos Alberto Silva como técnico e, depois, com o improvisado Forlan. Então veio Telê, que ensinou Raí a usar o corpo para proteger a bola, a fazer-se ágil pela inteligência do toque, que adiantou Raí e o aproximou da área, cobrando dele que assumisse a responsabilidade de fazer gols. Assim, nasceu o jogador que se tornou um dos maiores ídolos e um dos atletas mais decisivos e identificados com a camisa do São Paulo em todos os tempos. Sem a genialidade de Sastre ou Zizinho, sem a classe de Pedro Rocha, sequer a habilidade de Pita, Raí tornou-se mais importante para a nossa história que todos eles.

Muricy jamais fez ou fará com um jogador o que Telê fez com esses e com tantos outros. Talvez porque esteja no limbo: não é um “treinador”, um formador de jogadores, como os melhores técnicos dos tempos de Telê, tampouco é um estrategista, como Wanderley Luxemburgo, capaz de transformar uma partida com alterações feitas no timing perfeito e nas peças adequadas.

Luxemburgo, como sabemos, não é um homem comum. Ao contrário de Telê, não se faz admirar pela simplicidade. Usa os tais ternos italianos, atua como manager, empresário e sabe Deus mais o quê. Mas monta e mexe em um time como ninguém no futebol atual. Jamais substitui sem ter um objetivo tático e raramente deixa de atingi-lo.

Muricy flutua, suspenso no ar, entre expoentes de duas gerações diferentes de técnicos: entre Telê – que formava grupos fortes desenvolvendo qualidades individuais e treinando fundamentos à exaustão – e a concepção cerebral de Luxemburgo, que estuda cuidadosamente as características de seus atletas, compõe e distribui com inteligência o time titular e utiliza todo o elenco de forma a potencializar o coletivo, sem enfraquecer o individual.
Muricy é um excelente exemplo de um homem que trabalha, que se esforça, que merece deferência, mas que nasceu sem a grandeza dos que se destacam. Muricy é bom, mas é opaco. Não há brilho.

Luis Felipe Scolari é da mesma geração de Muricy. Como ele, também está a meio caminho entre o “treinador” Telê e o “estrategista” Luxemburgo, sem se assemelhar a nenhum dos dois, mas distinguindo-se tanto quanto ambos. Se Telê era capaz de fazer cada jogador alcançar o seu limiar técnico, Felipão faz cada jogador assumir o espírito de entrega total, de superar-se pela vontade. Se Luxemburgo monta o time para sufocar o adversário, para assumir o controle do jogo, Felipão monta suas equipes como máquinas de marcação, que abusam da força, buscam uma ocupação territorial e uma movimentação capaz de minar as forças do inimigo, a fim de induzir e aproveitar seus erros. É, essencialmente, um motivador, que exige de seus atletas a austeridade e o sacrifício, que faz com que a alma guerreira de suas equipes seja tão admirada quanto a poesia dos esquadrões de Telê e a impressionante eficiência dos times de Luxemburgo.
Felipão não é um homem comum.

Entre Telê, Luxemburgo e Felipão, um fator em comum: o carisma dos líderes. Cada um ao seu estilo, todos são incontestavelmente líderes. Amados por alguns de seus comandados, temidos por outros, até odiados por alguns. Mas respeitados por todos e, assim, capazes de transmitir a confiança e de inspirar a volúpia que determina as maiores conquistas.

Muricy não é capaz de potencializar talentos, de contagiar um grupo, de transformar um time em uma força irresistível. Está, sim, acima da obscura zona da mediocridade, mas desgraçadamente distante da velocidade de raciocínio, da liderança, da inspiração e, mesmo, da sorte que acompanha aqueles que fazem a diferença.

Não se pode negar a Muricy o mérito da conquista do título brasileiro de 2006, é verdade. Mas, da mesma forma, não se pode negar que o São Paulo tinha mais opções no elenco do que seus rivais mais diretos – Internacional, que teve o time esfacelado após a conquista da Libertadores – e Santos, que, além de um grupo limitado (em que não havia um Zé Roberto, por exemplo), ainda perdeu Dênis e Maldonado por contusões. E mais: Muricy tinha Mineiro, um jogador extremamente diferenciado para os padrões do futebol atual: versátil, marcador exímio, bom na condução e, à frente do gol, praticamente um Romário – quando a bola se lhe apresenta diante do goleiro, não erra, basta recordar do gol no Mundial 2005, do gol na Libertadores 2006 contra o Cienciano, do decisivo gol contra o Santos no Brasileiro, que nos valeu o tetra. Mineiro foi embora e a desorganização tomou conta do São Paulo, que não tem mais a consistência e a movimentação de 2006. Movimentação que era diretamente induzida pelo trabalho de Mineiro. Algo bem percebido por Abel Braga na decisão da Libertadores, afinal Tinga praticamente aleijou Mineiro no primeiro jogo, tirando-o do segundo. Nada me convence que não tenha sido orientação do banco.
A verdade é que Muricy simplesmente não sabe como armar a equipe em partidas decisivas. Conta com a mediocridade geral do futebol brasileiro para conquistar um campeonato de pontos corridos apenas com regularidade. O problema é que, sem Mineiro, não há mais regularidade. E se quisermos apelar para a nostalgia do torcedor frustrado, podemos ainda dizer que não temos Fabão para fazermos (e evitarmos) gols de cabeça – o jogo aéreo foi um dos grandes diferenciais de um time de muito brio e pouco brilho. E a considerar a quantidade de bolas alçadas por nossos jogadores, ainda hoje, Fabão deve ser uma ausência mais sentida do que jamais pensaríamos. De Lugano, melhor nem falar, porque a falta de um líder com as suas qualidades e seu apego à camisa do São Paulo é daquelas coisas que nos fazem amaldiçoar a falta de profissionalismo que torna nossos clubes dependentes das migalhas vindas mesmo de países sem qualquer tradição futebolística, como a Turquia.

De qualquer forma, veio Miranda, e mostrou-se eficiente. Alex Silva substituiu Fabão e mostra ser bom, preciso na marcação por baixo, embora menos eficaz do que poderia ser por cima. Para o lugar de Mineiro, sabíamos que não haveria ninguém à altura. A estrutura tática teria de ser alterada, mas nada aconteceu. Aliás, tudo piorou.

Como os próprios jogadores reclamam, discretamente, nos bastidores, Muricy insiste em treinar lançamentos longos para o esforçado Aloísio, entre dois, três zagueiros. Não se treina alternativas de deslocamento, inversões de posicionamento. Dagoberto, inexplicavelmente, começa os jogos caindo pela direita (que nunca foi sua zona de atuação) e, como a bola raramente lhe chega limpa, pouco há que sua técnica possa resolver. Ou bem faz toda a jogada sozinho, até desabar extenuado, ou coloca alguém, sem qualquer vocação de goleador, na cara do gol para desperdiçar mais um. Com a impotência do meio-campo na criação, Josué (único volante de contenção qualificado) avança, a zaga se aventura a participar de ações ofensivas, e ficamos desguarnecidos. Hernanes, que já mostrou ser bom, jamais é efetivado para ajudar a fazer a ligação; Jorge Wagner, contra a vontade, é mantido na lateral-esquerda, improvisado, quando obviamente deveria dar ao meio-campo a consistência que tanto nos falta. E quando temos Jadílson que, mesmo em má fase, é lateral de ofício e, tendo seus avanços bem protegidos, pode render bem mais. Esses e outros ajustes são subjetivos, “palpite de torcedor”, mas a única verdade é que, alterando o time a cada jogo, não há como surgir padrão, não há como transmitir segurança ao grupo. Está claro que Muricy Ramalho perdeu o controle da situação e, mesmo o que parece óbvio ao torcedor mais atento e à crônica esportiva, escapa-lhe da percepção. Como escapa de sua percepção que não adianta usar o banco de reservas apenas quando o time já está perdendo e após os 35 minutos do segundo tempo.

Tudo porque Muricy é um sujeito bom, mas apenas um homem comum.

O problema é que o São Paulo Futebol Clube, tricampeão continental, tricampeão mundial, o mais novo e o mais vencedor entre os grandes clubes brasileiros, é único, é poderoso, e não deve admitir um time comum, um jogo comum, uma disposição comum. Não há e não pode haver espaço no São Paulo para um técnico bom, mas previsível; para um ser humano de bem, que não passa de um homem comum.

Que se respeite Muricy Ramalho, por sua dedicação – de ontem e de hoje – ao São Paulo, por seu respeito a nossas cores. Que haja dignidade em tudo que diga respeito a ele. Lembrando-me de uma canção-símbolo do rock progressivo, “Fanfare for the Common Man”, de Emerson, Lake & Palmer, sugiro que se convoque a fanfarra e que, com grande estardalhaço, ela execute o Hino do São Paulo, exclusivamente para Muricy.

Como um tributo sincero.

E como uma despedida.


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